22 de março de 2010

Borboletas sempre voltam...

por ..bee.. às 18:40


(na foto: tio Virgílio [camisa cinza], tio Nilton [camisa branca] e vovô Jorge.)

Não acho que as pessoas deviam morrer. Ou bichos. Ou coisas. Não acho que ninguém devia ser obrigado a lidar com a morte. Acho que chegado o momento, devia-se simplesmente virar uma borboleta. Linda, colorida, feliz. Que voaria para o céu e nunca mais se veria. Mas se teria a certeza de que ela está bem. Adoraria virar uma borboleta e borboletear por aí, livre. Voltaria quando sentisse saudades, e tenho certeza de que os meus, aqueles que também sentem saudades de mim, saberiam me identificar em um milhão de outras borboletas.

Ninguém sabe lidar com a morte. Mesmo que ela seja esperada, mesmo que seja indolor, sempre fica algo. Sempre é triste. Sempre é despedida para sempre. Mas talvez nós só sintamos isso porque a nossa sociedade cultua a morte, as despedidas. Acho velório e enterro desnecessário. Não gosto de lembrar das pessoas ali, deitadas em um caixão. Em toda a minha vida, só estive em três velórios, e em nenhum dos três eu quis ver o morto. Prefiro lembrar da vida, dos sorrisos, das coisas boas.

No entanto, cada um lida com a morte de um jeito. E a sente também. A minha família cozinha. Não sei se é tradição, se os meus bisavós e tataravós faziam assim, só sei que nós o fazemos. Acho que é um jeito de cuidarmos uns dos outros e de certa formas dizermos que as coisas ficarão bem. Cozinhamos porque talvez a comida seja uma forma de celebrar a vida. Cozinhamos um batalhão de comida e nem sabemos para quem, porque nunca conseguimos comer. Ficamos sentados a mesa, olhando uns para os outros, como se tivéssemos nos confortando. A morte dói. A ausência, o silêncio.

Meu tio-avô faleceu essa manhã. Eu estava apenas começando a conhecê-lo. Mas de certa forma, fico feliz que eu o tenha conhecido. Que tenha conversado com ele, me emocionado. Que tenha lhe proporcionado a felicidade de ver a família reunida, pelo menos mais uma vez. Tem horas que eu acho que ele fez de propósito, sabe? Eu só conheci meu outro tio-avô e primos (muitos primos) por causa dele. Não vou esquecer nunca os momentos felizes no sítio em JF ou o almoço há 2 semanas atrás. Tinha tanto que eu ainda queria aprender com ele! Sempre sorrindo, fazendo caretas, preocupado se nós estávamos nos divertindo. Pescando no seu lago, pelo simples prazer de pescar, porque soltava os peixes depois. A conversa silenciosa, a permissão para entrar naquele mundo só dele, o sorriso. No rosto uma expressão de alguém que já tinha vivido poucas e boas, mas que se orgulhava disso. O último abraço. Gostoso!! E a promessa de que faríamos reuniões de família mais vezes...

É, tio Virgílio! Quem sabe quando eu virar uma borboleta também?!


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